RESENHA

 

Maccalóz, Salete Maria Polita. Poder Judiciário, os Meios de Comunicação e Opinião Pública. Ed. Lumen Juris, 2002, RJ.

 

por Regina Vianna*

 

A tese de doutorado intitulada Poder Judiciário, os Meios de Comunicação e Opinião Pública, defendida em Maio de 2000, na escola de comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), pela Magistrada Federal, Dra. Salete Maria Polita Maccalóz, foi publicada pela Ed. Lúmen Júris, no ano em curso.

A tese, que tem natureza polêmica, é um mosaico de boas idéias e constitui-se numa autêntica radiografia do poder judiciário no que tange as representações que dele fazem a mídia e diferentes segmentos da sociedade civil.

O exame de um conjunto de questões, formando uma unidade analítica, constitui o núcleo central das preocupações da autora: a representação social que do poder judiciário faz a mídia (jornais, revistas, televisão e rádios); as implicações destas representações sobre a chamada opinião pública; a forma como o poder judiciário está ordenado, suas relações com os demais poderes da União, e o entendimento que do poder judiciário tem os próprios atores sociais do campo jurídico (juizes, advogados e demais operadores do direito).

A temática, apesar de bastante abrangente, é sempre tratada de forma acurada por parte de quem possui uma larga experiência prática e teórica do métier jurídico pois, além de juíza federal, a Dra. Salete Maccalóz leciona Direito do Trabalho na UERJ.

Em relação ao ensino nas escolas de primeiro e segundo graus, básicas para a formação da cidadania, observa a autora o absurdo do currículo oficial não incluir nenhuma cadeira voltada para o ensino de noções de direito e de direito do trabalho.

Dentre os temas mais polêmicos que a autora examina, destacam-se dois: as freqüentes matérias publicadas pela mídia criticando a morosidade do judiciário e a questão da súmula vinculante.

A dita morosidade do judiciário costuma ser explicada na mídia como produto da falta de juízes, de recursos financeiros e estruturais. Sem negar tais problemas, a Dra. Salete Maccalóz considera que a justiça necessita de tempo para que concretamente possa ser feita de forma qualitativa e, de maneira enfática, considera que o Executivo tem sido – no caso do Brasil - o maior responsável pelo atravancamento do judiciário, na medida em que milhares de processos são abertos em função de freqüentes desrespeitos a direitos líquidos e certos, como nos recentes casos do confisco das cadernetas de poupança, do não pagamento dos 147,7% devidos aos aposentados e do expurgo da correção monetária do FGTS.

Quanto à questão da súmula vinculante, a autora considera que a adoção desta medida, ao invés de funcionar como elemento racionalizador do judiciário, como junto a opinião pública defende a mídia, implicaria em grave cerceamento da cidadania e amordaçamento dos julgadores de terceira instância. Aduz que através de mais este casuísmo, uma vez adotado, o judiciário passará apenas a institucionalizar as medidas ilícitas dos governos, mormente na espoliação de direitos dos servidores públicos, aposentados e contribuintes.

Considerações acerca dos problemas que incidem sobre a qualidade da formação jurídica, provocados pelo crescimento desordenado das Faculdades de Direito nas últimas décadas, sobre as implicações sociais da juvenilização do judiciário, sobre o ingresso das mulheres no judiciário, e muitas outras questões candentes do nosso tempo fazem parte de um texto combativo que prima pela defesa da cidadania e dos ideais democráticos.

Redigido em linguagem acessível, o livro da Dra. Salete Maccalóz interessa não apenas a profissionais do campo jurídico mas a todos os que se preocupam em investigar as complexas relações entre poder, imprensa e opinião pública. Quanto ao sucesso da publicação ele pode ser empiricamente demonstrado pelo fato de que, poucos meses após seu lançamento, estar em vias de ganhar uma segunda edição.



* A autora é advogada, formada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.


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