SOBRE A IDEOLOGIA E O
EFEITO DE EVIDÊNCIA NA TEORIA DA ANÁLISE DO DISCURSO FRANCESA
Leda Verdiani Tfouni e Rosa Virgínia Pantoni **
1. Sobre ideologia.
Dentro
da perspectiva marxista, o conceito originário de ideologia de Marx e Engels, segundo Bottomore (1988),
expressaria a relação entre “formas invertidas” da consciência e a existência
material dos homens, ou seja, haveria uma distorção do pensamento, cuja origem
se daria em função das contradições sociais. Essa distorção teria como
principal função ocultar essas próprias contradições. Esta formulação, porém,
foi sofrendo transformações dentro do próprio trabalho desenvolvido por Marx, e
também pela influência de outros autores como Lenin
e, posteriormente, nas releituras feitas de Marx por autores como: Althusser,
Gramsci e Luckács.
Althusser
(1980) propôs, segundo Portelli (1977), a mais
influente visão das duas últimas décadas. Segundo este autor, uma das grandes
contribuições do pensador francês foi o de distinguir:
“uma teoria da
ideologia geral, na qual a função da ideologia é assegurar a coesão na
sociedade, da teoria das ideologias específicas, na qual a função geral já
mencionada é sobredeterminada pela nova função de
assegurar a dominação de uma classe” (op.cit.p.186).
Continuando,
ele coloca que isso só foi possível pela formulação do conceito de ideologia
como “uma representação da relação
imaginária dos indivíduos com suas condições reais de existência”
(Althusser: 1980:77, grifo meu), e na medida em que ela interpela os indivíduos
e os constitui em sujeitos que aceitam seu papel dentro do sistema das relações
de produção.
Segundo
Althusser (1980:81), é “a natureza
imaginária (da relação entre os homens e as suas condições reais de vida) que
fundamenta toda a deformação imaginária
que se pode observar em toda ideologia”.
A
partir da leitura de Althusser, seu conterrâneo Pêcheux vai pensar nas relações
entre discurso e ideologias. E é esta leitura que nos interessa.
Partindo
das contribuições do materialismo histórico no que diz respeito à
superestrutura ideológica em sua ligação com o modo de produção e realizando um
novo deslocamento, Pêcheux mostra o importante papel que a ideologia representa
no processo de interdição dos sentidos. Propondo o conceito de “condições de produção”, ele mostra que
o discurso é efeito de sentidos entre os interlocutores. Assim, temos que o
indivíduo não está livre para escolher deliberadamente, numa determinada
situação, o que falar, pois o seu dizer estará sendo afetado por este “já lá”, que Pêcheux denomina de
interdiscurso ou “o todo complexo com
dominante das formações discursivas” (1988:162). Esse “já–lá” são
sentidos que foram se construindo historicamente a partir da constelação das
relações de poder, que podem ser assumidos ou não pelo sujeito, a depender das
posições discursivas que este poderá ou não ocupar em função do funcionamento
da ideologia.
Assim,
Pêcheux vai mostrar que o “caráter
material” do sentido, ou dos sentidos, somente é possível porque: “a materialidade concreta da instância ideológica
existe sob a forma de formações ideológicas, que, ao mesmo tempo, possuem um
caráter ‘regional’ e comportam posições de classe”. Isto quer dizer que na
luta de classes, não há “posições de
classe que existam de modo abstrato e que sejam aplicadas aos diferentes
‘objetos’ ideológicos regionais das situações concretas”. (Pêcheux,
1988:146).
Pêcheux
afirma ainda que a materialidade ideológica só é possível de ser apreendida a
partir da materialidade lingüística, que aparece nas formações discursivas; dizendo
de outro modo, que aparece no dizer concreto de cada sujeito. Segundo o autor
(1988), a modalidade particular do funcionamento da instância ideológica
consiste justamente nesse assujeitamento ideológico
que conduz cada pessoa a acreditar que, a partir de sua livre vontade, pode se
colocar, sob a forma discursiva, no lugar de uma ou outra classe social,
antagonistas no modo de produção.
Como coloca
Pêcheux, essa interpelação do sujeito em sujeito ideológico, ou sujeito do
discurso: “se efetua pela identificação
(do sujeito) com a formação
discursiva que o domina (isto é, na qual ele é constituído como sujeito): essa
identificação, fundadora de unidade (imaginária) do sujeito apoia-se
no fato de que elementos do interdiscurso (...), são re-inscritos no discurso
do próprio sujeito” . (id.,
p.163).
No
processo descrito pelo autor, ele usa o artigo definido “a” para referir-se à formação discursiva que, na articulação com o
sujeito, o constitui. Isso não é à toa, pois não é possível ser uma formação
qualquer, mas sim uma específica, que se relaciona com a posição possível para
o sujeito ocupar, e que por sua vez, relaciona-se com a forma-sujeito, que é a
forma de existência histórica de qualquer indivíduo, agente das práticas
sociais. Assim, essa unidade imaginária – sistema de evidências e de
significações percebidas - que fornece a cada sujeito a “sua realidade”, só é
possível através de uma submissão aos significantes da língua (ao
pré-construído); o que equivale a dizer que a língua funciona no sujeito cada
vez de modo diferente, pois esse assujeitamento não
se dá da mesma maneira para cada falante da língua. Daí a noção de que não há
uma relação direta e automática do discurso com uma dada situação empiricamente
descritível.
Assim,
para a análise do discurso, segundo Orlandi “a
ideologia não é ‘x’ mas o processo de produzir ‘x’ ” (Orlandi,1995:09).
Ao
interpelar o sujeito e produzir esse efeito de evidência e de unidade, a
ideologia produz um processo de naturalização dos sentidos. Ancorando-se no “já-dito”, e apagando a história, os
sentidos vão se instalando na sociedade e vão sendo percebidos, e apropriados
no intradiscurso, como naturais. Assim, como coloca Orlandi:
(1995:10): “ocorre uma
“simulação (e não ocultação de conteúdos) em que são construídas
transparências (como se a linguagem não tivesse sua materialidade, sua
opacidade) para serem interpretadas por determinações históricas que aparecem
como evidências empíricas”. Essa determinação histórica faz com que os
sentidos sejam interpretados numa determinada direção (“em seus mecanismos imaginários”) e não em outra.
Chegamos, então, à definição
de ideologia (e, conseqüentemente, de sujeito) na qual este trabalho se baseia:
“ideologia não se define como o conjunto de representações,
nem muito menos como ocultação de realidade. Ela é uma prática significativa;
sendo necessidade da interpretação, não é consciente – ela é efeito da relação
do sujeito com a língua e com a
história em sua relação necessária, para que se signifique” (Orlandi, 1998:48).
Deste
modo, temos que o sujeito pode, através de seu discurso, evidenciar uma
identificação com a ideologia da classe dominante, mesmo não pertencendo a essa
classe, e sem ter consciência disso. É isso que procuraremos mostrar a seguir,
através da análise de uma narrativa de ficção oral produzida por uma mulher
negra, analfabeta, desempregada, que vive em um bairro de classe baixa da
cidade de Ribeirão Preto, Estado de São Paulo, Brasil.
2. Sinopse da narrativa.
O
título da narrativa é “As três estrelas de
ouro na testa”. Nela, conta-se a história de um
pai, muito pobre, que, não tendo comida para oferecer às três filhas, vai
passear com elas e as abandona na mata. Antes, porém, explica a elas que um
príncipe vai passar por este caminho e orienta como elas devem conversar com
ele. Isto tudo acontece de fato, e as três meninas vão morar no castelo, sendo
que as duas mais velhas passam a ser empregadas, e a
mais nova torna-se esposa do príncipe e dele tem três filhos gêmeos, dois
meninos e uma menina, os quais têm sua realeza marcada por uma estrela de ouro
na testa. A irmã mais nova por ter se casado com o príncipe, logo desperta
inveja nas outras, que decidem se vingar. Assim, elas trocam os filhos
recém-nascidos da irmã por três sapos, e atiram as crianças dentro de um caixão
ao rio. Elas são encontradas por um pescador de origem humilde, cuja esposa
acabara de dar à luz um menino. O casal decide então criar os três
recém-nascidos como filhos adotivos, ocultando a verdadeira origem dos mesmos,
e colocando-lhes uma touca, para ocultar as estrelas de ouro da testa. Porém, a
verdade vem à tona, na medida em que o filho verdadeiro percebendo que apenas
ele não tem esta marca, faz com que o pai lhe conte o acontecido. A partir daí
os filhos do príncipe saem a procura dos pais
verdadeiros. Após muitas peripécias, as
crianças finalmente encontram os verdadeiros pais, e a história termina com o príncipe/rei dando uma grande festa, reconciliando-se com a
esposa, à qual pede perdão, e com o castigo para as tias que, depois de grande
violência física ainda são atiradas ao fogo para morrer queimadas.
3. Análise.
Vamos
centralizar nossa análise, neste trabalho, seguindo o que preconiza a análise
do discurso, no uso de palavras e expressões que revelam a identificação, pelo
sujeito, com a ideologia da classe dominante.A primeira coisa a ser notada é
que parece haver uma polarização entre o uso de algumas formas lingüísticas que
estariam a favor da manutenção das formações ideológicas dominantes e de outros
lugares, dentro da própria narrativa, nos quais é possível enxergar pontos de
deriva e, ao mesmo tempo, de resistência a essas formações.
Essa
polarização aparece de maneira privilegiada relativamente à questão racial, no
uso de branco/negro. Assim, é possível perceber, na
narrativa, várias referências com relação à raça negra em oposição à branca.
Durante a história, a palavra “preto”, que sofre
deslocamentos para “moreno” e “raça de gente morena”, aparece, nas suas
diferentes combinações, com os outros elementos lingüísticos, produzindo um
efeito de sentido que revela uma formação ideológica dominante, em que a raça
branca é tida como melhor, mais inteligente, em contraposição à negra que se
mostra agressiva e mal educada.
Isso
pode ser percebido inicialmente pela própria eleição dos protagonistas, que são
três crianças louras, filhas de reis (“reais”), que nascem com estrela na
testa. Estas se destacam como sendo mais inteligentes do que o irmão, que é
negro, que não se interessa pela escola, maltrata as pessoas mais velhas, como
poderemos perceber nos recortes a seguir:
Recorte 1 (Ao contar a relação do menino preto com a escola, a
expressão “todo dia” indica o quanto era comum este apresentar dificuldades, o
que se expressava em briga com os colegas e em não dar ouvidos à professora):
“....E num fazia dereito a lição da
professora. Um dia ele ia na escola, otro dia não ia.
O dia que ia, brigava c’os menino, o menino preto, é...o menino moreno. Brigava
lá c’os menino, tudo...Brigava...falava, a professora danava c’o ele, ele num
escutava, tomava castigo todo dia..”
Recorte 2 (Em
uma das passagens, a narradora faz uma distinção entre as atitudes do menino
preto, que é descrito como mal educado e agressivo, em contraposição aos
irmãos, educados e obedientes à mãe):
“...E....então, quando foi
num belo dia, eles vinha vindo da escola, o menino já tava com... – nisso, os treis ....os quatro já tava cum
doze ano; (...) e aí...vinha vindo um veinho. (...) e
o véio pegô e deitô debaixo duma árvre porque
ele tava cansado. E dormiu, um pobrezinho, lá debaixo da arvre.
Aí os treis...os quatro menino passaro, e um deles
:
(voz infantil)
-Bença, vovô!
Os treis:
-Bença, vovozinho!
(voz senil) –
Deus te abençoe, netinho!
(...)
(v.n) O moreninho não! O moreninho não tomô bença, não.
-Ó...’ô tomá bença de ninguém não! Ocêis é que são bobo, tomá
bença de qualqué um.
-Ó, meu irmãozinho, não faiz
isso que é pecado! Num é ansim que mãezinha ensinô nóis, não! Quando passá perto dos mais véio, prá tomá bença!
-Uai, cê já num falô? Já num falô bença? Tá
falado! Eu num vô falá bença, não. Ó, cê qué vê a bença que eu vô dá pr´ele?
– (v.n).
Passô a mão nas pedra, que ele tinha um estilingue, e mandô pedra no véinho. E pá! – as
pedra no véinho” .
A
organização desses enunciados na história contada por Dona Madalena indica, no
seu discurso, a dominância de uma formação ideológica específica, na qual essas
passagens produzem um efeito de sentido onde se associa preto e/ou moreninho a algo que é ruim, ou que não presta, e
também a pessoas mal educadas, que não têm um comportamento adequado às normas
de conduta social aceitáveis. As crianças bancas, por outro lado, são
caracterizadas como detentoras das regras de boa educação, e ensinam o negro
como deve se comportar. O importante a ressaltar aqui é que tais
características da criança negra aparecem como se esse sentido fosse o único possível, naturalizando-se a diferença.
Essa
formulação parece melhor evidenciada quando
acrescentamos às anteriores um outro recorte :
“.. E matricularo
as criança, aí foro pra escola. Aí, os menino...os treis
menino tinha bastante inteligença. Eles ...eles logo
...aquilo que a professora passava a lição, eles aprendero.
Tudo que a professora falava...eles aprendero...a lê,
e...e tudo eles prestava bem atenção e fazia dereitinho.
E o menino da véia,..da Dona Isolina,
por sê filho de pobre... e via os treis...via aqueles
treis menino lá, irmão dele, ele ficava em dúvida,
falava: Ó!...eu tô desconfiando! Esses menino não é
meus irmão não, porque esses menino são loiro, e eu sô moreno. Acho que não é mei irmão não”.
Essa
estruturação “p pois q”, organizada com (ser loiro) =
p e (tinha bastante inteligença) = q, pode ser lida
da seguinte forma: “por ser loiro, filho de rei, tinha bastante inteligência”,
e também no terreno do não-dito, “por ser negro, filho de pobre, tinha pouca ou
nenhuma inteligência”. Essa leitura aponta, sob a forma de silenciamento,
já que não está presente no corpo da narrativa, uma visão inatista
de desenvolvimento bastante presente em alguns ditos genéricos populares, tais
como: “Filho de peixe, peixinho é”; “Pau que nasce torto, morre torto” etc.
Assim, ter ou não bom desempenho é explicado pelas características hereditárias
do sujeito e não a partir da relação dialética entre condições de ensino e
oportunidades de aprendizagem. É importante lembrar aqui que Dona Madalena é uma pessoa negra, pobre, com vivência de fracasso escolar.
Essa
transposição de um “já-dito”, que se encontra nas formações ideológicas
dominantes, e que apresenta uma explicação sobre como as pessoas aprendem e se
desenvolvem, e ainda, porque umas aprendem e/ou se
desenvolvem mais que as outras, pode ser explicada por
uma interpelação ideológica que faz com que o sujeito desse dizer se
identifique com essas formações discursivas e não outras.
Porém, como já
mostrou Carreira (2000) mesmo quando o sujeito do discurso tenta controlar e
direcionar o sentido do que diz ou escreve o “eu” vacila, ou seja, algo no seu
dizer vem à tona, à sua revelia, fazendo com que ocorram inevitáveis
deslocamentos de sentido. Numa passagem em que a narradora refere-se aos
personagens não humanos, o significante “preta” entra
numa relação com os outros elementos discursivos, em que o encadeamento evoca a
produção de sentido numa outra direção, podendo “preto” ser associado com algo
que é valioso, forte e que sustenta. Isso é feito em referência a uma vaca após
o pai referir que a mulher não tem leite por ser pobre.
Vejamos
o recorte onde é possível observar este deslocamento:
Recorte 5 (Este recorte refere-se à solução dada pelo
pai, ao buscar solução para alimentar os 4 filhos pequenos):
“...comprô uma vaca pintada bem....de leitera
mesmo que tinha...que tava dando leite pos bizerro.
Ele comprô aquela vaca e o peito da vaca enchia assim
...E comprô mais uma vaca: a vaca pintada, e comprô uma vaca preta . A vaca preta tinha o leite forte. E
aí todo dia de manhã cedo ele levantava e tirava o leite, e dava ... e a véia distemperava com um pouco
d’água e dava pás criança. Aí criô. Ela criô o dela e criô os treis.... aquelas treis
criança.......”
É
importante observar que, na seqüência lingüística, aparece inicialmente a mesma
formulação “p pois q”. Assim, na impossibilidade de a
vaca pintada dar conta, surge a necessidade de se
comprar “uma vaca preta”, cujo leite é tão “forte” que precisa ser “distemperado” com água.
4. Discussão.
Analisando
a constituição desse processo discursivo, uma das perguntas que poderíamos nos
fazer é: por que os significantes preto/preta
só podem aparecer se reportando a algo bom se estiverem associados à
vaca e não ao menino, filho da mulher pobre? Será que o sujeito escolheria
“intencionalmente” esses elementos, para produzir os efeitos de sentido
desejados?
Sabemos
que não, pois, como dissemos acima, o
sujeito não consegue controlar os sentidos, visto que a ideologia se dá de
maneira inconsciente.
Voltando
às perguntas, ainda não sabemos porque, então. O sujeito produz este dizer, e
não outro. Será que ser negra, pobre e não-alfabetizada tem alguma relação com
esse processo?
As
respostas a essas perguntas, sem dúvida, não são simples. É possível tentar
buscá-las inicialmente naquilo que certamente, a nosso ver, não explica o processo de
constituição dos sentidos. Nessa perspectiva poderíamos estabelecer uma relação
direta entre o sujeito empírico (no caso uma mulher negra,
pobre, com experiência de fracasso escolar) e formações ideológicas
dominantes. Isso seria admitir um assujeitamento
total por parte do sujeito, através do qual o seu dizer não ultrapassaria o
nível do repetível, do interdiscurso. Seria também negar os aspectos
contraditórios e heterogêneos que constituem a ideologia.
Tendo
em vista, então, que a relação com a ideologia e a constituição dos sentidos
não ocorre de forma estática e nem automática, como a própria trama das
formações discursivas mostra, é preciso analisar esse discurso a partir do seu
funcionamento. Ao utilizar marcadamente, nas narrativas, o uso de palavras e
expressões que indiciam uma filiação a formações ideológicas dominantes, o
sujeito coloca-se em uma posição interpretante, em que tudo aquilo que se
contrapõe a essa “homogeneidade lógica”, precisa retornar em outros lugares.
Nesse sentido, parece haver uma polarização entre o uso dessas palavras e
expressões, que estaria a favor da manutenção das formações ideológicas
dominantes, e outros lugares, dentro da própria narrativa, onde é possível
enxergar pontos de deriva e, ao mesmo tempo de resistência, a essas formações.
Concluindo,
isso não quer dizer que o uso de genéricos implica uma tomada de posição
consciente por parte do sujeito, pois se fôssemos indagar diretamente à Dona
Madalena se ela acredita que preto é menos inteligente que branco, não
poderíamos afirmar com certeza que sua resposta seria afirmativa, pois como já
dissemos, a interpelação pela ideologia atua através de mecanismos
inconscientes ao sujeito.E é esse deslocamento quanto à conceituação de
ideologia é que vai interessar para a Análise do Discurso.
Referências bibliográficas
ALTHUSSER, L. Ideologia e Aparelhos Ideológicos do Estado.
3ª edição. Lisboa, Portugal. Editorial Presença/Martins
Fontes. 1980.
CARREIRA, A. F. Subjetividade
e Autoria: O sujeito como vacilo do “eu”? Tese de Doutoramento.
USP-Ribeirão Preto. 2000.
BOTTOMORE,
T. Dicionário do pensamento marxista.
Rio de Janeiro. RJ. Jorge Zahar Editor Ltda., 1988.
ORLANDI,
E. P. Discurso, imaginário social e
conhecimento. Texto não publicado. 1995.
________
Interpretação: autoria, leitura e
efeitos do trabalho simbólico.
Petrópolis , RJ, Vozes Editora. 2ª edição. 1998.
PÊCHEUX,
M. Semântica e Discurso: uma critica
à afirmação do óbvio. Campinas, SP. Editora
da UNICAMP. 1988.
PORTELLI,
H. Gramsci e o bloco histórico.
Tradução de Angelina Peralva. Rio de Janeiro, RJ. Paz
e Terra Editora. 1977
Resumo: Pretendemos, nesta comunicação, comentar o modo pelo
qual Michel Pêcheux retomou o conceito de ideologia de Marx e, através da
releitura feita por Althusser, o tornou conforme a uma teoria do discurso. Assim, o conceito inicial de ideologia como
estágio de “ocultação” ou “inversão” da realidade, passa a ser um processo de
naturalização de sentidos, que faz parecer que existe apenas uma maneira de se
expressar. Para ilustrar estes pontos, apresentaremos a análise de uma
narrativa oral de uma mulher negra e analfabeta, procurando mostrar como aí
opera o processo de identificação com a ideologia da classe dominante.
Palavras-chave:
ideologia; efeito ideológico elementar; ocultação; naturalização de sentidos;
identificação de classe; narrativa.
* Trabalho
apresentado na II Conferência Internacional “La Obra
de Carlos Marx y los desafios del siglo XXI”, realizada
em Havana, Cuba, maio de 2004.
** LEDA VERDIANI
TFOUNI. Professora Titular do Departamento de Psicologia e Educação da FFCLRP-
Universidade de São Paulo-BRASIL Pesquisadora do CNPq (lvtfouni@usp.br) & ROSA VIRGÍNIA PANTONI-
Mestre em Psicologia pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da FFCLRP-
Universidade de São Paulo- BRASIL.