REORDENAMENTO POLÍTICO E CIRCULAÇÃO DAS ELITES EM CAMPOS  DOS GOYTACAZES: REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA IMPRENSA LOCAL

(1982-2004)

                                                                                                                          

Silvia Pantoja * & Diomar Pessanha**

                                                                                                                        

1. Introdução

 

A presente análise insere-se em uma das vertentes da pesquisa mais ampla que se desenvolve no Núcleo Lyra Filho, da Universidade Candido Mendes – Campos dos Goytacazes, com o suporte financeiro da Faperj, sob a coordenação da Dra. Silvia Pantoja, em torno do processo de renovação das elites, do reordenamento das diretrizes políticas públicas e assistenciais,  bem como do fenômeno de circulação das elites que vem se verificando, em Campos dos Goytacazes, desde o início do processo de abertura democrática, nos estertores do regime político ditatorial que vigorou no país por mais de vinte anos [1].

 

A escolha de Campos dos Goytacazes, enquanto espaço geopolítico de investigação, justifica-se, primordialmente, por hoje constituir um dos mais importantes e promissores municípios do Estado do Rio de Janeiro, desfrutando de expressiva visibilidade nas esferas estadual e nacional por uma conjunção de fatores. Dentre estes, destaca-se o surto no incremento das receitas do orçamento municipal e as transformações no perfil sociocultural que vem experimentando desde fins da década de 1980, em decorrência dos royalties pagos pela exploração do petróleo extraído das plataformas marítimas instaladas em seu litoral. Na virada do século, a descoberta de novos e abundantes lençóis petrolíferos na Bacia Campista, elevaram abruptamente a arrecadação desses royalties que atingem, desde então,  cifras exorbitantes, em ritmo acelerado e contínuo [2].

 

Outro fator que confere inegável importância a Campos  é o de constituir a cidade de origem de Anthony Matheus Garotinho, ex-governador do Estado do Rio de Janeiro, (1999/2002), eleito em função das inovações implementadas nos mandatos exercidos como prefeito de Campos (1989/1992 e 1998/2000), no que diz respeito às políticas públicas e assistenciais voltadas, prioritariamente, para a criança e para o adolescente, as quais encontraram forte ancoragem nas representações sociais da população estadual. A habilidade do ex-governador fluminense em proceder alianças no jogo de correlações de força em torno do poder mostrou-se incontestável, ao conquistar o terceiro lugar nas eleições presidenciais realizadas em 2002 [3].

 

O período delimitado para a análise tem como marco inicial a radical ruptura observada entre o grupo político liderado pelo tradicional chefe da política campista, José Carlos Vieira Barbosa, que dominou o cenário político municipal por mais de duas décadas [4], e a nova classe política, emergente em meados dos anos 1980, momento em que o Brasil ingressou no processo de abertura democrática. Sob a égide de Anthony Matheus Garotinho, a nova classe política passou a dominar a política municipal, inaugurando uma nova modalidade de política assistencialista, a que chamamos de neopopulismo”, consoante a ordem neoliberal então instaurada no país [5]. A investigação estende-se até o contexto em que se realizou o primeiro turno das eleições municipais de 2004, tendo em vista as significativas mudanças no reordenamento das elites e, conseqüentemente, nas representações sociais veiculadas pela imprensa, de modo a evidenciar a solidez da referida máquina política no cenário municipal, a despeito das profundas divergências que hoje se observa no seu interior.

 

Quanto aos objetivos precípuos deste estudo, busca-se examinar as representações sociais veiculadas pela imprensa em torno das seguintes questões:

 

a) o reordenamento político – partidário que se observou em Campos dos Goytacazes entre 1982/1988 e 1989/2004, constituindo um "divisor de águas" entre a tradicional classe política, fortalecida durante o regime político ditatorial, e a classe política que se formou com o processo de redemocratização do país e que assumiu, a partir de então, a vanguarda do processo político municipal;

 

b) as novas diretrizes nas políticas públicas e assistenciais apresentadas pelo novo grupo dirigente, de forma a reforçar seu compromisso em resgatar a imensa e crescente  parcela da população local do estado de extrema carência, enquanto fórmula de cooptação política;

 

c) o processo de circulação das elites que se processa visivelmente, na atual conjuntura;

 

d) o dissenso nas representações sociais veiculadas pela imprensa, como decorrência da pulverização da classe política que se mostrava relativamente coesa no controle do poder municipal desde sua formação,  expressando, assim,  as profundas divergências que ora se verificam  nas representações sociais dos  eleitores, as quais se apresentavam igualmente coesas, até o momento atual;

 

e) a “lei de ferro das oligarquias” instaurada  pelo ex-governador do Estado do Rio de Janeiro para controlar a máquina política que montara, há quase vinte anos, e que, ainda hoje, domina o cenário campista. De certo, mesmo o desgaste sofrido, nas representações sociais do universo consensual da população local, por não ter cumprido as promessas de campanha feitas quando disputava o governo estadual, não incidiu de forma incisiva no controle ainda exercido por Anthony Garotinho sobre sua máquina. Tal fato mostra-se irrefutável, ao atentarmos para a força de sua interferência  em prol  dos candidatos que apóia no pleito municipal deste ano (2004) [6].

 

2. Fundamentação teórica da análise em tela

 

Proceder à análise em tela implicou, sem dúvida, um esforço interdisciplinar entre dois campos específicos de conhecimento inseridos no conjunto das Ciências Sociais: a Ciência Política e a Psicologia Social.

 

Quanto à Ciência Política, os subsídios apropriados para a análise consistem nas contribuições trazidas pelos clássicos da chamada Escola Italiana das Elites , ou seja Vilfredo Pareto,  autor da "Teoria da Circulação das Elites", Gaetano Mosca, que elaborou os conceitos de "classe política" e "fórmula política", e Robert Michels, que tornou explícita a "lei de ferro das oligarquias" [7].

 

         Sem qualquer pretensão de esgotar a análise sobre tais contribuições, tarefa inviável no limite deste trabalho, torna-se necessário tecer breves considerações sobre as mesmas. Segundo Pareto, a facção da elite no poder procura criar mecanismos capazes de perpetuá-la, neutralizando as investidas da contra-elite (membros da elite que não detém o mando), sendo a massa mero objeto do jogo político. Visando conservar o poder, as elites são levadas a renovar seus quadros. Assim, através do fenômeno que classifica de "circulação das elites”, elementos da antiga elite que se tornaram decadentes são substituídos por outros, cooptados inclusive nas camadas de baixa renda. Quando uma nova elite toma o poder, geralmente se propõe a abolir privilégios e abusos cometidos pela antecessora. Entretanto, como ela é também uma minoria, visará fortalecer-se, reproduzindo um  modelo similar de dominação política.

 

Quanto aos referidos conceitos elaborados por Mosca, entende-se por "classe política" a minoria organizada que se ocupa do poder e, por "fórmula política", o conjunto de doutrinas e crenças que dão fundamento moral ao poder dos dirigentes, e, ao mesmo tempo, constitui o laço comum de valores entre governantes e governados. Segundo Mosca, quando uma fórmula política torna-se ultrapassada e a fé nos princípios sobre o qual repousa torna-se fraca, observa-se o prenúncio de sérias transformações na classe política dirigente.

 

Finalmente, quanto às contribuições de Michels, cabe assinalar que, tendo estudado a questão da centralização do poder, tanto nos partidos, como nos sindicatos, constatou que a organização implica dividir tais instituições em uma minoria dirigente e uma maioria dirigida. Conforme observou, a simples existência de um partido (ou sindicato), por sua organização estrutural, produz naturalmente uma "oligarquia de ferro". Ou seja, um grupo de dirigentes profissionais que se torna inamovível, representando o partido aos olhos da opinião pública e não se dispondo a repartir com os demais militantes a direção política institucional.

 

Michels pondera, no entanto, que a organização é o único meio de se criar uma vontade coletiva, podendo ser, nas mãos dos mais fracos, um instrumento de luta contra os mais fortes. O princípio da organização deve ser, portanto, considerado uma condição absoluta da luta política conduzida pelas massas [8]. Assim, ao afirmar que toda organização conduz à oligarquia, mas que sem organização a democracia torna-se inviável, aponta para o paradoxo existente entre os anseios democráticos e a prática oligárquica que, segundo constatou, tipifica a vida dos partidos e sindicatos modernos.

 

Na mesma diapasão, adotou-se como ferramentas de análise aspectos relevantes da   Teoria das representações sociais, elaborada pelo psicólogo francês, Serge Moscovici, em 1961, para o exame das matérias veiculadas pela imprensa [9].

 

Considerando as contribuições trazidas pela vertente psicossociológica inaugurada por Moscovici, pode-se perceber, ao menos em conjunturas estáveis, uma interação entre as representações sociais expressas pela imprensa e as representações sociais dos grupos aos quais se dirige, através do processo de ancoragem, tendo por função orientar condutas e  promover formas específicas de interação dos indivíduos na coletividade. Segundo este autor, as representações sociais são modalidades de conhecimento particular que circulam no dia-a–dia e que têm como função a comunicação entre indivíduos, criando informações e familiarizando-os com o estranho, o não familiar, por meio da ancoragem e da objetivação. Ancoragem é o processo de assimilação de novas informações a um conjunto cognitivo-emocional preexistente e, objetivação, a transformação de um conceito abstrato em algo tangível.

 

Por essa abordagem, compreende-se que os jornais, enquanto veículos de representações sociais, por seu poder convencional e prescritivo sobre a realidade, repercutem nas representações sociais coletivas, permitindo constituir o pensamento em um verdadeiro ambiente onde se desenvolve a vida cotidiana. Os assuntos ali listados, priorizados e divulgados não despertam questionamento, principalmente quando se reportam a uma pequena comunidade de leitores, com parca diversidade ideológica, como evidencia a uniformidade nas representações sociais dos dois jornais examinados: O Monitor Campista, considerado porta-voz oficial do governo e a Folha da Manhã, representado como oposicionista pela comunidade campista, ao longo do período 1982/1992.

 

Essa estreita identidade que se observava entre as representações do universo reificado da imprensa e as representações do universo consensual da população campista, no entanto, começou a afrouxar-se com as constantes investidas do principal articulador e organizador da nova classe política, Anthony Matheus Garotinho, contra seus fiéis aliados, ao sentir ameaçada a “lei de ferro” com que exercia o controle sobre a mesma, de modo a assegurar sua liderança na vanguarda do cenário político municipal.

 Obstinado em prosseguir em sua escalada rumo ao executivo federal, mas ao mesmo tempo receoso quando à perda de significativa parcela do  eleitorado campista, alimentada pelo atual prefeito, Arnaldo Vianna, segundo o linguajar popular, por uma política de  “pão e circo”, com os crescentes recursos advindos do pagamento dos royalties, Anthony Garotinho fundou o jornal O Diário, em 8 março de 2001, em terreno pertencente ao Estado do Rio de Janeiro. O objetivo claro e explícito de tal iniciativa foi o de resgatar a antiga imagem de representante compromissado com os setores mais carentes da população e, ao mesmo tempo, o de dirigir fortes ataques ao seu ex-aliado, o prefeito Arnaldo Vianna, apoiado pelo principal órgão da imprensa campista, a Folha da Manhã. Ocupando o executivo estadual e contando com o apoio de uma fatia nada desprezível das antigas lideranças, injetou fortes estímulos e incentivos, tais como, distribuições de brindes e  promoções de sorteios, de modo a  obter um meteórico crescimento no número  de leitores do órgão da imprensa que fundara.

 

A derrota sofrida enquanto candidato à sucessão presidencial nas eleições realizadas em 2002, o rompimento político com o prefeito Arnaldo Vianna e, conseqüentemente com o grupo por este liderado, Garotinho, contando com o decisivo apoio de sua mulher, a qual fizera sua sucessora no executivo fluminense, passou a dedicar-se, com total empenho, em entabular negociações e adotar medidas necessárias para recuperar  o prestígio inconteste que usufruíra em Campos. O Diário tornou-se então peça fundamental para promover uma forte e decisiva divisão nas representações sociais do já representativo número de leitores campistas, passando a disputar, com a Folha da Manhã, controlado pelos aliados do prefeito, a vanguarda da imprensa local.

 

Compreende-se assim, o papel fundamental da imprensa na engrenagem que formata uma "sociedade pensante", possibilitando o intercâmbio entre representações de segmentos socioculturais e representações individuais, que não se confundem mas se inter-relacionam. Embora funcionem para a construção de realidades consensuais, matéria-prima das representações sociais, o discurso jornalístico provém de um universo reificado, produzido por intelectuais que se apropriam de noções, imagens e linguagem científicas, desempenhando um papel importante no processo de transferência e transformação do conhecimento e que, por sua ampla abrangência, acabam por incidir nos universos consensuais. Entretanto, conforme acima assinalado, os indivíduos que compõem o corpo de interlocutores são seres ativos, pensantes, portadores de representações que, por sua vez, influenciam as representações sociais da imprensa. Com base na perspectiva psicossociológica de Moscovici, os indivíduos não são apenas processadores de informações, mas pensadores ativos que refletem, criticamente, sobre os episódios cotidianos divulgados pela imprensa; indivíduos que "produzem e comunicam incessantemente suas próprias representações e soluções específicas para as questões que lhes são colocadas" (Moscovici,1984:16).

 

Em fins da década de 1980, embora ainda se observasse um consenso entre as representações jornalísticas e as representações sociais da coletividade, em Campos, no que dizia respeito às políticas públicas privilegiadas pelo então prefeito Vieira Barbosa, as mudanças ocorridas nos cenários políticos nacional e estadual, paralelamente às mudanças no perfil sócio-econômico municipal que clamavam por medidas urgentes de caráter assistencial, apontavam para uma nova realidade social e um conseqüente reordenamento das políticas públicas. Essas mudanças, no entanto, foram representadas pela imprensa de forma "naturalizada", de modo a não produzir dissenso no universo das representações sociais da "sociedade pensante". Isto porque, naquele período, já se observava uma renovação das elites políticas no âmbito estadual, inaugurada com a eleição de Leonel de Moura Brizola para o executivo fluminense e o crescimento do partido por ele organizado, Partido Democrático Trabalhista (PDT), em todo o Estado. Ao mesmo tempo em que a imprensa noticiava o interesse do governador em incrementar políticas de assistência à população carente, notadamente às referentes às crianças e adolescentes, com a criação dos Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs) em Campos e em outros municípios do norte fluminense, inúmeras matérias evidenciavam, de igual modo,  os esforços que o prefeito Vieira Barbosa – forte adversário de Leonel Brizola – despendia junto ao então presidente José Sarney, sobre a mesma problemática.

  Com o crescimento das forças emergentes que se aglutinavam em torno do partido do governador e que culminaram, conforme indica a  análise abaixo, com a expressiva vitória de Anthony Matheus Garotinho, candidato do PDT à prefeitura de Campos, nas eleições municipais de 1988, constata-se que as novas representações sociais funcionaram no reordenamento do comportamento e da integração cognitiva, por parte da sociedade campista. Os compromissos assumidos pela nova classe política, organizada em torno de Garotinho, em centralizar as políticas públicas municipais em programas de assistência à população de baixa renda e, particularmente, em projetos de promoção social das crianças e dos adolescentes, encontraram forte ressonância nas representações sociais de diferentes grupos e segmentos da população campista.

 

3. Renovação das elites nas representações sociais da imprensa campista.

 

Durante a campanha para as eleições municipais de 1982, a imprensa local, tanto o Monitor Campista, porta-voz do discurso oficial, como a  Folha da Manhã, representado como jornal de oposição, pelos leitores, manifestaram um estreito alinhamento com a política situacionista, anunciando a vitória inconteste do tradicional chefe político de Campos, José Carlos Vieira Barbosa. Este, egresso da Aliança Nacional Renovadora (ARENA), agremiação que aglutinara as forças reacionárias do regime militar ditatorial, reelegeu-se, naquele pleito, pela terceira vez, prefeito de Campos, pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro, (PMDB); partido formado pelos representantes do antigo Movimento Brasileiro Democrático (MDB), do qual fora opositor [10].

 

Conforme o quadro comparativo demonstra, [11] José Carlos Vieira Barbosa contava, até então, com o expressivo apoio do eleitorado campista. Eleito com 63.758 votos, contra os 44.125 conferidos ao seu principal opositor, Rockefeller Felisberto de Lima, que concorrera pelo Partido Democrático Social (PDS), partido que também aglutinava grande número de representantes do período ditatorial. O candidato do Partido dos Trabalhadores (PT), César Ronald P. Gomes, só conquistou 10. 609 sufrágios.

 

A maioria absoluta dos vereadores fora eleita pelos dois partidos formados por  representantes egressos do antigo regime. O PMDB elegeu 11 e o PDS 8 vereadores. O Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e o Partido Democrático Trabalhista (PDT), partidos pequenos organizados naquela conjuntura, fizeram um representante, Roberto Ribeiro de Souza e Fábio Ferraz de Oliveira, respectivamente. O candidato mais votado pelo Partido dos Trabalhadores (PT), Anthony Matheus, jovem radialista que dirigira sua campanha para o setor desfavorecido da população, não conseguiu obter o número de votos necessários para eleger-se [12].

 

A fragilidade dos pequenos partidos, e, em especial, a derrota sofrida pelo jovem radialista Anthony Matheus à Câmara dos Vereadores pelo PT, foram assuntos explorados pela imprensa, principalmente pelo fato deste ter obtido um expressivo número de votos, suficientes para elegê-lo caso tivesse optado por um outro partido [13].

 

A postura oposicionista de Anthony Matheus, entretanto, provinha de outro cálculo político. Isto porque, a nova conjuntura iniciada com o processo de redemocratização do país,  colocava em foco a situação de abandono e de extrema miséria da grande parcela dos excluídos dos bens mínimos existenciais, em parte pelo descaso dos poderes públicos e da sociedade quanto à adoção de medidas básicas assistenciais voltadas para os segmentos desfavorecidos da população, em particular, para a criança e para o adolescente, e também pela estrutura de escassez econômico-financeira que o município apresentava. Frente a esse quadro, Anthony Garotinho, jovem radialista em Campos, considerou o momento propício para ingressar na carreira política. Beneficiando-se do programa diário que dirigia em rádio com grande audiência, em horário especialmente voltado para donas de casa, desempregados e necessitados em geral, deu início à sua própria campanha, construindo em torno de si a imagem de um novo modelo de representação dos interesses populares, através de um discurso fortemente oposicionista e claramente divergente das práticas que caracterizavam as tradicionais elites dirigentes. Popular e populista, rapidamente passou a ser identificado pelas camadas menos favorecidas da população como um contundente defensor dos “pobre, fracos e oprimidos”.

 

         O resultado do pleito de 1982 apresentou um desenho original no cenário político fluminense. Enquanto o PDT, partido de oposição, conquistou o executivo estadual com a vitória expressiva de Leonel de Moura Brizola [14], os partidos remanescentes do antigo sistema partidário, PMDB e PDS, elegeram a grande maioria dos prefeitos, demonstrando, assim, a força das antigas máquinas políticas montadas ao longo do regime militar pelos chefes políticos municipais.

 

Salientando em demasia esse fato, a imprensa campista enfatizava as iniciativas de Brizola em consolidar suas bases políticas, ao propor um governo pluripartidário na composição de seu secretariado, de modo a viabilizar sua administração. Dentre os inúmeros artigos publicados em torno desta questão, são ilustrativos os abaixo reproduzidos:

 

“O governador Brizola está sendo obrigado a fazer manobras fantásticas para manter um bom relacionamento com a Assembléia Legislativa, na qual seu partido é minoritário e da qual depende, logo nos primeiros dias,... de nº suficiente para uma reforma constitucional que garanta a nova estrutura administrativa do Estado.”

 

 Sustentando tal argumento e fazendo clara alusão aos vícios que marcam a política clientelística brasileira, o artigo ressalta que:

 

“conforme a praxe política indica, os chefes de executivas sem maioria na Assembléia Legislativa devem buscar um entendimento interpartidário, o que, na democracia, equivale assegurar a influência das minorias, o que é a lição maior de convivência de contrários. Quando o executivo fica minoritário, a fiscalização do legislativo costume ser muito rígida, mesmo que os seus integrantes estejam dispostos a oferecer uma colaboração para que as coisas se tornem viáveis.... o que prejudicaria tanto o governo quanto aos partidos de oposição, por viciar o processo legislativo estadual” . (Folha da Manhã – 10/03/1983).

 

“O PDT só poderá se transformar em uma grande organização após os quatro anos de administração Brizola. Até lá, no entanto, o governador terá que depender das bancadas do PMDB, PDS e PTB se desejar realizar uma coisa mais ousada em termos administrativos, sabendo-se que em política cada apoio custa algum tipo de concessão, todas elas legítimas, se o trato com a coisa pública for respeitado, o que todos esperam que ocorra. ... Os anos recentes em matéria política ensinaram ao povo brasileiro que nada é bom a não ser dentro do mais amplo respeito às regras democráticas, que estabelecem a convivência de contrários.... Para se chegar ao anti-autoritarismo é preciso um exercício permanente de paciência e respeito à opinião alheia, porque não se deseja que nenhum dono da verdade distribua os seus conceitos como se falasse ex-cátedra”. (Folha da Manhã –17/03/1983).

 

Tais advertências, no entanto, ocultavam o interesse da administração municipal em proceder à captação de recursos do governo do estado, uma vez que, a legislação tributária então vigente previa a centralização dos recursos pela União e um posterior repasse para os estados e destes para os municípios. Como Campos apresentava um quadro de esvaziamento econômico crônico e escassez financeira, pois a prefeitura contava apenas com o montante arrecadado do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), o qual era diretamente apropriado pelas municipalidades, tornava-se extremamente necessário uma aproximação com o executivo estadual para a canalização dos recursos necessários aos projetos municipais. Obviamente, como Vieira Barbosa contava com o apoio do então presidente da República, João Batista Figueiredo [15] e do destacado líder político de Campos, Alair Ferreira, eleito deputado federal pelo PDS, inúmeras vezes recorreu diretamente à arena decisória do poder nacional para enfrentar os momentos mais críticos de sua administração. Essa prática, porém, era executada veladamente, por infringir os dispositivos constitucionais. Nesse sentido, compreende-se o interesse do prefeito de Campos em estabelecer relações cordiais com o governador do Estado.

 

Leonel Brizola, por sua vez, defrontava-se com a forte oposição sustentada pelo executivo federal, precisando, de igual modo, estabelecer relações cordiais com o centro do poder nacional para levar a cabo seus projetos administrativos, bem como com os prefeitos do Estado para ampliar seu raio de dominação política. Essas investidas foram amplamente exploradas pelos jornais de grande circulação, como também pelos noticiários locais. As reportagens que se segue evidenciam tais iniciativas:

 

“Brizola enviou telegrama para o presidente Figueiredo propondo cooperação em todos os setores que o governo federal achar necessário para a normalização democrática do país, sob as melhores inspirações de concórdia, patriotismo e de amor à causa pública”. (Folha da Manhã – 17/03/83).

 

“Em resposta à mensagem enviada por Brizola, expondo seus planos administrativos e seu interesse em obter o apoio federal para incrementá-los, Figueiredo parabenizou os propósitos de colaboração  e o ânimo construtivo apregoados pelo governador do Estado do Rio de Janeiro”. (Folha da Manhã – 18/03/83).

 

“Depois de conversar, juntamente com outros 61 prefeitos do Estado, durante 6 horas, com o Governador Leonel Brizola, ... Zezé Barbosa mudou seu ponto de vista inicial sobre a reunião, que esperava ser superficial, trocando-o por um forte entusiasmo em relação às perspectivas de colaboração entre o governo municipal e o estadual” (Folha da Manhã – 01/05/83).

 

“A presença de Brizola aqui em Campos mostra o seu interesse em investir no interior. ... A preferência do governador é desenvolver o Estado do Rio de Janeiro, como medida capaz de refrear o crescimento dos problemas da região metropolitana” (Folha da Manhã – 15/05/ 83).

 

É oportuno lembrar que a imprensa campista, até então estreitamente alinhada com a política situacionista municipal, pouco explorou a eleição de Leonel Brizola para governador do Rio de Janeiro, bem como o número de vereadores e deputados estaduais eleitos pelo PDT, no Estado como um todo.

 

Entretanto, na medida em que o Partido Democrático Trabalhista (PDT), fundado pelo governador do Estado, engrossava suas fileiras, ameaçando a liderança dos prefeitos eleitos pelos partidos da oposição, dentre estes, Vieira Barbosa, a imprensa foi amenizando as críticas e ironias com que noticiava os feitos do governador e as investidas de Anthony Matheus contra o executivo municipal. De forma prematura, já naquela época anunciava uma possível candidatura de Anthony Garotinho, ou para a Câmara dos Vereadores, ou para um cargo mais elevado, nas eleições de 1986.

 

“O radical Anthony Matheus, candidato a vereador pelo Partido dos Trabalhadores, mais votado nas últimas eleições,... ainda tem bastante tempo para amadurecer até as próximas eleições ... e pensar se vai repetir a candidatura à Câmara dos Vereadores, ou tentar outros vôos" (A Notícia- 26/04/84).

 

Compreende-se pois,  a posição sutilmente ambígua das representações sociais veiculadas pela imprensa local, frente à necessidade de acompanhar as representações sociais do universo consensual da maioria dos leitores, a qual ainda manifestava significativo apoio ao prefeito Vieira Barbosa. Deste modo, ao mesmo em tempo que evidenciava o crescimento do PDT e a possibilidade de Garotinho ingressar na política campista, noticiava também o descaso do governador do Estado pelo município:

 

"O governador pôs os pés apenas uma vez em Campos. ... Afora o apoio do BANERJ para os plantadores de cana e usineiros, nenhum programa de vulto foi planejado  ou executado. Principalmente, para as classes que receberam mais promessas" (A Notícia- 01/05/1984).

 

De igual modo, criticava de forma ambígua as investidas de Garotinho contra o prefeito Vieira Barbosa e o apelo populista com que se expressava pelo rádio:

 

"Com sua linguagem fácil, o radialista está alcançando grande destaque contra o aumento dos impostos. Se levarem a efeito o propósito de enquadrá-lo na Lei de Segurança Nacional, os advogados da prefeitura municipal estarão elevando-o do noticiário local para o nacional (...) Se quiserem aumentar o prestígio do jovem radialista e político, os idealizadores de tal façanha têm um bom instrumento nas mãos".  (A Notícia – 03/05/84).

 

As articulações e negociações entabuladas entre o chefe do executivo estadual com o executivo municipal (e vice-versa) e com o executivo federal prolongaram-se ao longo de toda a gestão de Brizola no governo do Estado, ou seja, até março de 1987, quando foi substituído por Wellington Moreira Franco, candidato do PMDB [16].

 

Paralelamente, desde meados de 1984, a imprensa prenunciava a mudança de Anthony Garotinho para o PDT, enquanto gesto oportunista capaz de promover seu ingresso no cenário político. Tais prenúncios encontravam fundamento nas investidas, embora pouco explícitas tomadas por Garotinho, de aproximação com o partido do governador, frente à frágil estrutura política do PT campista e à perseguição que sofria dos opositores que, aos poucos, solaparam seu espaço em todas as rádios da cidade.

 

Frente a tal realidade, convicto da popularidade que já havia conquistado e determinado em ingressar na arena política, em novembro de 1984, Anthony Garotinho anunciou seu afastamento do PT, o ingresso no PDT e sua futura eleição para o Diretório Municipal deste partido, no mês seguinte [17]. Segundo a notícia veiculada pela imprensa, Garotinho “explicou que não conseguiu desempenhar sua atividade política e, embora criticasse a falta de condições de atuar através do PT na vida política de Campos, disse que a saída era circunstancial porque considera o PDT necessário neste momento”. (Monitor Campista, 17/11/84).

 

Assim determinado, Garotinho procurou o governador Brizola, organizador e presidente nacional do PDT, oferecendo a força política que já contabilizava no norte fluminense, em troca de seu apoio eleitoral. Brizola, por sua vez, interessado em estender seu apoio político por todo o Estado, deu-lhe como patrocínio a propaganda radialista do Banco do Estado do Rio de Janeiro (BANERJ) para aquela região. Respaldado por tais préstimos, Garotinho retornou à sua função de radialista, o que favoreceu sua eleição para Deputado Estadual, com expressivo número de votos, no pleito de 1986, ainda que muito próximo do segundo colocado, Sérgio Diniz, genro de Vieira Barbosa e candidato pelo PMDB. Garotinho angariou 20.757 e Sérgio Diniz 19.677 votos. Este fato  demonstra que, por aquela época, o eleitorado campista encontrava-se dividido em torno da velha e da nova classe política que, paulatinamente, se afirmava no cenário municipal.

 

Em 1988, já bastante fortalecido pelas estreitas relações que estabeleceu com o governador Brizola e por ter conquistado, definitivamente, a simpatia e apoio da população campista, principalmente após anunciar sua adesão à igreja evangélica que se expandia “de vento em polpa” na região, elegeu-se pela primeira vez prefeito de Campos nas eleições municipais realizadas naquele ano. Garotinho conquistou 62.953 votos e seu principal adversário, Rockfeller Felisberto de Lima, candidato pelo PFL, 51.408.  O resultado do pleito representou um "divisor de águas" entre a política azeitada por décadas pelas tradicionais chefias municipais e a classe política emergente com a redemocratização do país, ao apontar a dominação inconteste que o PDT usufruía  na arena municipal [18].

 

Consultando a lista de vereadores eleitos no mesmo pleito constata-se o processo de circulação das elites, com a aglutinação dos novos quadros emergentes e antigos políticos anteriormente aliados de Vieira Barbosa [19].

 

Contrastando as duas conjunturas econômicas, políticas e sociais em questão, cabe enfatizar que, a difícil situação financeira , o aumento populacional e o alto índice do êxodo rural que Campos experimentou ao longo da década de 1980, incidiram de forma desastrosa na administração de Vieira Barbosa. Comparando os dados censitários de 1980 e 1991, observa-se que a população campista cresceu 15%, passando de 348.461 para 401.873 habitantes, ao longo dessa da década.  Observa-se também, no mesmo período, que o êxodo rural atingiu o índice de 51% e que a população urbana aumentou sensivelmente, passando de 203.399 para 331.019 habitantes. A população rural, em decorrência do êxodo, passou de 145.062 para 70.854 habitantes [20].

 

Contrário sensu, Anthony Matheus Garotinho, ao assumir o executivo estadual, em janeiro de 1989, a situação do município era bastante distinta do seu antecessor. As mudanças observadas incluíam o incremento no quadro econômico-financeiro, o processo de complexificação e proliferação da diferenciação social, e uma multiplicidade de organizações representativas. Tais mudanças decorreram, primordialmente, do aumento progressivo dos pagamentos dos royalties, de uma maior parcela do Imposto de Circulação de Mercadorias (ICM) propiciada pela descentralização administrativa prevista pela Constituição de 1988 e de uma maior arrecadação do Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU), decorrente do aumento da população urbana.

 

Obstinado a conquistar a significativa parcela da população que migrou, a partir da segunda metade da década de 1980, para a periferia da cidade, formando uma massa de excluídos dos bens sociais básicos, vivendo em condições subumanas, alijada do restrito mercado de trabalho, Anthony Garotinho, ao longo da campanha eleitoral, apresentou um discurso nitidamente populista assistencialista, aqui denominado de neopopulista, voltado para a mesma. Em sincronia com as práticas e fórmulas neopopulistas adotadas pelo governador Leonel Brizola, sustentava, como “carro-chefe” de campanha, a promessa de resgatar do estado de abandono o referido contingente de excluídos da população campista, notadamente as crianças e adolescentes.

 

Entretanto, a despeito do viés demagógico do discurso populista assistencialista que sustentou como forma de cooptar os votos das camadas desfavorecidas do município e a imensa discrepância entre o prometido e o realizado, é inegável que o ex-governador campista contemplou, significativamente, as políticas assistenciais, ao longo de seu primeiro mandato. A imagem que formou em torno de si, com a marca política “Viva Campos”, rendeu-lhe altos ganhos políticos, levando a população de Campos a firmar uma nítida separação entre o modelo administrativo de Vieira Barbosa, identificado como político comprometido com os segmentos mais favorecidos da população, e o que implementara, favorecendo a parcela formada por carentes e  excluídos dos direitos sociais. Paralelamente, Garotinho buscou o apoio da elite intelectual do município, criando o Centro Cultural Trianon, com cinema, teatro, escola de arte, orquestra sinfônica  e corpo de baile.

 

As mudanças ocorridas no cenário político estadual, paralelamente às verificadas no perfil sócio-político municipal, apontavam para uma nova realidade social e um conseqüente reordenamento das políticas públicas. Estas mudanças, no entanto, foram veiculadas pela imprensa de forma “naturalizada”, de modo a não produzir forte dissenso no universo das representações sociais da “sociedade pensante. Isto porque, naquele período, observava-se também  uma renovação das elites políticas no âmbito estadual e o crescimento do PDT em todo o Estado.

 

A ocorrência de novos fatos políticos, econômicos e sociais passaram a ser representados pela imprensa, agindo no sentido de gerar uma mudança nas representações sociais do universo consensual e apontando para uma nova realidade social. Segundo a Teoria das Representações Sociais de Serge Moscovici, uma realidade social é criada apenas quando o novo ou não familiar vem a ser incorporado aos universos consensuais. Ao apresentar as mudanças ocorridas na nova realidade social, a imprensa faz uso da “ancoragem” que, conforme acima assinalado, promove a integração cognitiva de novas idéias e acontecimentos a um sistema de pensamento já preexistente, provocando transformações no mesmo.

 

O fortalecimento do poder político de Anthony Garotinho no plano municipal ficou claramente evidenciado ao eleger seu candidato, Sérgio Mendes, à prefeitura de Campos, nas eleições realizadas em outubro de 1992. A propaganda política relacionava tão intimamente os dois políticos que o slogan da campanha era “Sérgio Mendes é povo.  É Garotinho de novo!”

 

A identidade políticp-partidária entre os dois representantes políticos foi reforçada pela mesma postura populista assistencialista assumida por Sérgio Mendes. Como seu antecessor, proferia fortes discursos inflamados, fazendo questão de frisar que daria continuidade ao trabalho iniciado por Garotinho, a quem atribuía a responsabilidade pela sua vitória eleitoral.

 

Confiante na popularidade que vinha conquistando no cenário estadual e contando com o expressivo apoio de Leonel Brizola, Anthony Garotinho candidatou-se ao governo do Estado do Rio de Janeiro, pelo PDT, nas eleições realizadas em 1994. Entretanto, as divergências crescentes entre Leonel Brizola, que se desincompatibilizara do executivo estadual, em abril de 1994, para disputar a Presidência da República, com o presidente em exercício, Fernando Henrique Cardoso, do Partido Socialista Democrático Brasileiro (PSDB), incidiram incisivamente na sua derrota, no 2º turno das eleições, conferindo a Marcello Nunes de Alencar, candidato do PSDB, a vitória, com larga margem de diferença nos votos apurados [21].

 

Por outro lado, na esfera municipal, o estreito relacionamento inicialmente expressado entre Garotinho e o então prefeito, Sérgio Mendes, acabaria em março de 1996, momento em que ambos passaram a acusar mutuamente as improbidades administrativas cometidas durante seus respectivos mandatos.

 

O estopim das discórdias girava em torno da escolha do vice-prefeito que disputaria com Garotinho as eleições municipais de 1996. Enquanto Sérgio Mendes insistia em indicar Murilo Diegues, Garotinho preferia Arnaldo Vianna. Demonstrando que a força política-eleitoral de Campos encontrava-se sob o seu comando, Garotinho compôs a chapa com Arnaldo Vianna, elegendo-se, em primeiro turno, com 134.906 votos, que representava 66% do eleitorado campista.

 

Sentindo-se fortalecido para prosseguir sua escalada política, Garotinho decidiu concorrer novamente ao governo do Estado nas eleições a serem realizadas em 1998. De modo a não perder o expressivo apoio de seu eleitorado no município de Campos, convocou um plebiscito, em meados de 1997, obtendo quase 95% dos votos a favor de que deixasse a prefeitura municipal e disputasse o executivo estadual tendo como candidata à vice-governadora Benedita da Silva, do PT. O motivo exposto pelo prefeito campista era o de que o PT, ao indicar Luís Inácio Lula da Silva candidato à Presidência da República e Leonel de Moura Brizola para a Vice-Presidência, formara uma aliança com o PDT, não podendo indicar candidatos de outros partidos ao governo do Estado, no referido pleito. O entusiasmo da população campista era na realidade alimentada pelas promessas feitas por Anthony Garotinho, ao longo da campanha eleitoral, de que daria especial atenção ao município de Campos.

 

Frente à necessidade de desincompatibilizar-se do cargo que ocupava, Garotinho passou o executivo municipal para o vice-prefeito, Arnaldo Vianna, então seu fiel aliado que contava igualmente com a simpatia popular. Enquanto médico, Arnaldo conciliava o cargo de secretário da saúde com o de coordenador do projeto “Prefeitura em Ação”.

 

Importa salientar que, por aquela época, Campos já experimentava um surpreendente incremento em sua estrutura econômico-financeira, com a entrada cada vez mais volumosa do pagamento dos royalties, desde a segunda metade da década de 1990.

 

Nas eleições realizadas em outubro de 1998, Anthony Garotinho, candidato pelo PDT, que formara coligação com o Partido Comunista do Brasil (PC do B), Partido Comunista Brasileiro (PCB), Partido Socialista Brasileiro (PSB) e o Partido dos Trabalhadores (PT), conseguiu eleger-se chefe do executivo estadual, em 1º turno, obtendo 57,98% dos votos do eleitorado estadual (4.259.344) contra os 42,02% (3.087.117) conferidos ao seu adversário, César Epitácio Maia, candidato da coligação Partido da Frente Liberal (PFL), Partido Progressista Brasileiro (PPB) e Partido Trabalhista Brasileiro (PTB).

 

Reproduzindo, no cenário estadual, a mesma fórmula adotada na esfera municipal, Anthony Garotinho implementou uma administração nitidamente populista assistencialista, executando “obras de efeito” voltadas para os segmentos mais carentes da cidade do Rio de Janeiro, tais como, o “piscinão(sic) de Ramos, restaurante e hotel populares subsidiados pelo Estado (o preço de cada refeição ou de cada diária, de R$ 1,00, é apenas simbólico), grande número de conjuntos habitacionais de casa populares financiadas por preços irrisórios (as prestações mensais giram em torno de R$ 150,00 a R$ 200,00). Em relação ao interior do Estado, os projetos implementados para a revitalização econômica e promoção social dos municípios, dentre eles o de Campos dos Goytacazes, mostraram-se muito aquém do prometido. A frustração da população campista, que criara grandes expectativas em torno do  governo Garotinho, provocou um sensível abalo em suas bases de dominação, cujos reflexos tiveram efeitos desastrosos sobre a imagem que, por quase duas décadas, construíra ao seu redor.

 

Compreende-se portanto, a expressiva vitória alcançada, em primeiro turno,  por Arnaldo França Vianna , candidato do PDT à prefeitura de Campos, nas eleições de 2000, que, aos poucos, vem ocupando o espaço deixado pelo ex-governador do Estado. Sem desconsiderar o empenho manifestado por Arnaldo Vianna em favor dos excluídos, principalmente da parcela de crianças e adolescentes da população campista, importa salientar os gastos exorbitantes da prefeitura com shows e festas populares, para os quais são canalizadas grandes somas dos recursos provenientes do pagamento dos royalties, que atuam no sentido de enaltecer a imagem do prefeito, bem como um número irrisório de postos de trabalho formais [22].

 

Tais iniciativas indicam que o atual prefeito reproduz a mesma política populista assistencialista de seu antecessor, sem atentar para as inúmeras advertências que tem recebido por parte de economistas quanto à necessidade de aplicar as verbas arrecadadas pelos royalties em investimentos futuros que garantam um desenvolvimento auto-sustentável do município campista. Arnaldo Vianna mostra-se mais preocupado em consolidar sua dominação política no cenário municipal, com completa autonomia em relação a Anthony Garotinho. Nesse sentido é bastante ilustrativa sua declaração à imprensa, em janeiro de 2001:

 

“Se não fosse os royalties, dava um tiro na cabeça. Fui reeleito graças a eles.... Preciso arrumar a cidade para atrair investimentos. Além disso, é asfalto que o povo quer. ... Inauguro posto de saúde e não há tanto entusiasmo. Quando faço asfalto sou recebido como um deus.... Não sonho com petróleo, mas com o governo do Estado em 2006”.

 

Favorecido com o espetacular aumento da receita municipal, Arnaldo Vianna facilmente conquistou autonomia no cenário campista, adotando as mesmas práticas neopopulistas, promovendo eventos populares milionários em Farol de São Tomé, único balneário do litoral campista. Segundo o artigo acima referido, chegou a afirmar: “...os eleitores relacionam a materialização de antigos sonhos não aos milhões recebidos, mas ao suposto brilhantismo do administrador. A maioria desconhece a origem do dinheiro. Nem foi chamada a debater a sua utilização” [23]. Compreende-se, portanto, a iniciativa do prefeito em instalar no portão da cidade um cavalo mecânico da Petrobrás com a seguinte inscrição: “Campos Capital do Petróleo”.

 

A derrota de Garotinho nas eleições presidenciais de 2002, sua posterior ruptura com o PDT e, conseqüentemente com Brizola, favoreceram os planos políticos do atual prefeito22. Assim, contando com a fidelidade de considerável número de ex-aliados políticos de Garotinho, Arnaldo Vianna manteve sua força política fortalecida após romper com o ex-governador, em meados de 2003 [24].

 

Acompanhando o intrincado e enigmático jogo de correlações de forças no pleito municipal que ora se realiza, compreende-se, cada vez de forma mais explícita, que o desgaste sofrido por  Anthony Garotinho, ao não ter privilegiado Campos, no conjunto dos municípios do Estado do Rio, durante sua gestão no executivo estadual, fato agravado pelos fortes  ataques procedidos por Arnaldo Vianna, não foram suficientes para arrefecer a força política do ex-governador, junto ao eleitorado de Campos. O resultado do pleito de 3 de outubro, p.p., que assegurou, por uma pequena margem de vantagem para seus candidatos, Geraldo Pudim e Claudecir, sobre os apoiados por Arnaldo Vianna, Alberto Campista e Toninho Viana, determinando a realização do 2º turno, constitui prova evidente, não só do expressivo cacife político que Anthony Garotinho ainda usufrui junto ao eleitorado de Campos, como também  da possibilidade concreta de reassumir, com total vigor, em curto espaço de tempo, a vanguarda do cenário político municipal, ou mesmo nas esferas estadual e federal.

 

Extremamente hábil, maleável e experiente, o ex-governador vem demonstrando uma  peculiar capacidade de estabelecer alianças e de cooptar eleitores, até mesmo entre seus mais ferrenhos adversários do passado, conforme acima assinalado, de modo a carrear votos para seus candidatos. A escolha de Claudecir, para concorrer à vice-prefeitura de Campos, foi, sem dúvida, uma engenhosa façanha de Garotinho. Isto porque, extremamente popular por colocar mais de vinte ambulâncias, “aparentemente”,  com seus próprios recursos, para o atendimento dos segmentos carentes da população campista, Claudecir há muito usufrui de um expressivo apoio do eleitorado municipal.

 

   Além disso, não se pode ignorar o grande trunfo que Anthony Garotinho assegurou ao fazer de sua esposa, Rosinha Matheus (sic), sua sucessora no executivo estadual, nas eleições de 2002. Disposta a resgatar o forte prestígio que seu marido desfrutara ao início de sua carreira política, a governadora o nomeou para a Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, em 23 de abril de 2003. Paralelamente, vem injetando maciços recursos para promover as candidaturas por ele apoiadas à prefeitura de Campos. Dando continuidade às práticas inauguradas por seu marido, instituiu, em Campos, neste ano, um restaurante e uma farmácia populares, fornecendo refeições e remédios a preços irrisórios e prometeu construir casa para a população de baixa renda, cujas prestações seriam de R$ 1,00 [25]. Paralelamente, vem subsidiando, ainda que indiretamente, O Diário, jornal controlado pelo seu marido e correligionários, de modo a neutralizar a força da propaganda política em prol de Arnaldo Vianna, que a Folha da Manhã promove. Como forma de angariar eleitores, os editores de O Diário ofereceram, em março, ao leitor que fizesse uma assinatura do jornal, por seis meses, ou seja, até setembro, mês que antecedeu as eleições municipais, uma bicicleta da Cicle Bom Jesus”, cadeia  de lojas de propriedade do deputado José Cláudio Martins, rico comerciante e membro da elite campista, ou seis meses de recebimento gratuito da revista “Isto É”, ou seja, de março a setembro deste ano. Ora, qualquer cidadão, por mais superficial que seja sua reflexão crítica e grau de politização, não deixa de levantar suspeitas acerca das intenções subjacentes às ofertas de tais brindes, às vésperas das eleições.

 

Anthony Garotinho, por sua vez, vem envidando esforços e empenhou maciço montante de verbas canalizadas dos cofres do Estado e das contribuições de ricos aliados, para reverter a preferência do eleitorado pela candidatura de seu principal e histórico adversário, Paulo Feijó, lançada pelo PSDB, apontada nas enquetes realizadas  por destacados centros de pesquisa [26]. Demonstrando, mais uma da campanha eleitoral e o resultado do segundo turno, são vez, possuir uma grande Virtù e agilidade para contornar situações adversas, Anthony Garotinho, contando com o expressivo apoio de sua esposa, contribuiu, decisivamente, para que o referido candidato obtivesse a terceira colocação no primeiro turno. Preservou assim, para a disputa final, as duas candidaturas que, embora hoje manifestem posições divergentes, são igualmente representantes da classe política organizada e consolidada sob a sua égide, em Campos dos Goytacazes.

 

Considerando os objetivos propostos, bem como o rigor das abordagens teóricas e metodológicas que fundamentam este trabalho, o desdobramento da campanha eleitoral e o resultado do 2º turno, são questões que não incidem na pertinência da presente análise. Entretanto, é interessante tecer um breve comentário sobre a apuração final do processo eleitoral, por reforçar duas premissas contempladas no corpo do trabalho. A primeira, diz respeito à divisão do eleitorado em dois blocos com uma proximidade numérica surpreendente. O candidato de Arnaldo Vianna, Alberto Campista, obteve a vitória no pleito de 31 de outubro, por uma pequena margem de votos  sobre seu adversário, Geraldo Pudim, que contava com o decisivo apoio de Anthony Garotinho. O primeiro, favorecido pelos  votos conferidos ao terceiro concorrente, Paulo Feijó, que o apoiou no 2ºturno,  conquistou 54,58% sobre os 45,42%, dos votos válidos obtidos pelo segundo.

 

A segunda premissa, refere-se à formação de uma consciência crítica, ao longo de duas décadas, por parte de uma parcela da população local, retratada pelo descontentamento, amplamente manifestado, quanto aos dois concorrentes ao executivo municipal. Ambos, identificados como representantes da mesma classe política e, portanto, como adeptos da mesma fórmula política  neopopulista inaugurada por Anthony Garotinho. Tal fato mostra-se evidente ao observarmos que, apenas 83,25% do eleitorado compareceram às urnas no 2º turno e pelo percentual de 16,75% de abstenção constatada.

 

ANEXO  I

 

ROYALTIES DO PETRÓLEO -  VALORES CREDITADOS A PREFEITURA DE CAMPOS DOS GOYTACAZES (EM MIL)

 

1

2

3

4

5

6

7

8

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004*

4.019

8.343

48.525

94.025

118.234

172.779

229.727

202.323

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Obs.; *  Acumulado até out/04

Obs.observa-se que 2004, acumulado até outubro/04 (8) já ultrapassou a receita  acumulada no ano de 2002 (6).

Fontes: PMCG e ANP.

 

ANEXO   II

 

 

Resultados Divulgados das Pesquisas Eleitorais EM Campos dos Goytacazes RJ- 1º TURNO/2004

 

1

 

 

 

CANDIDATOS

Pesquisa CEPECAM

 

**PESQUISA DO IBOPE

***PESQUISA DA PRECISÃO

Dias  25  e 26/09

Dias 17a 19/09

Dias 22 a24/09

Margem de erro: 3 pontos %

Margem de erro: 4 pontos %

Margem de erro: 3

 pontos %

Intenção de Votos

Intenção de votos

 

Intenção de Votos

GERALDO PUDIM

26%

32%

34%

CAMPISTA

18%

15%

19%

FEIJÓ

29%

23%

25%

MAKHOUL

10%

10%

8%

Brancos/nulos/indeciso

17%

18%

14%

Total dos votos apurados

100%

100%

100%

 

   ** Fonte: O Diário ( 22/09/2004)    *** Fonte: O Diário (26/09/2004)

 

 

 Cálculo dos Resultados das Pesquisas para Comparação com o TRE

2

 

 

 

 

 

 

CANDIDATOS

Pesquisa CEPECAM

 

**PESQUISA DO IBOPE

***PESQUISA DA PRECISÃO

 

Dias  25  e 26/09

Dias 17a 19/09

Dias 22 a24/09

 

Margem de erro: 3 pontos %

Margem de erro: 4 pontos %

Margem de erro: 3

 pontos %

 

% VOTOS VÁLIDOS

% VOTOS VÁLIDOS

% VOTOS VÁLIDOS

 

 

GERALDO PUDIM

31%

*40%

*40%

 

CAMPISTA

*22%

*19%

*22%

 

FEIJÓ

*35%

29%

*29%

 

MACKHOUL

12%

12%

*9%

 

TOTAL DOS VOTOS VALIDOS

100%

100%

100%

·         * Resultados fora da margem de erro da pesquisa

·         TER exclusão de votos brancos, nulos e abstenções

·         Pesquisas – exclusão das intenções de votos brancos, nulos e indecisos.

 

        

 RESULTADOS DAS ELEIÇÕES EM  CAMPOS DOS GOYTACAZES (TRE)

DIA 03.10.2004

3

 

 CANDIDATOS

% DE VOTOS VALIDOS

GERALDO PUDIM

33,5%

CAMPISTA

27.8%

FEIJÓ

25,0%

MAKHOUL

13,7%

TOTAL DOS VOTOS VÁLIDOS

100%

 

 

ANEXO III

 

PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPOS DOS GOYTACAZES

 

1983

 

Candidato a prefeito

Candidato a vice

Partido

Votos

José Carlos V. Barbosa

Waldebrando de Carvalho

PMDB

63.758

Rockfeller Felisberto Lima

Lourival Martins Beda

PDS

44.125

César Ronald P. Gomes

Ruy de Souza Saldanha

PDT

10.609

Jorge Renato Pereira Pinto

Carlos Alberto T. Campista

PMDB

8.830

Nilo Peçanha A Siqueira

José Alves de   Azevedo

PTB

7.961

José Maria M. De Barros

Fernando Campos Ribeiro

PDS

4.709

Ângela Maria C. Peixoto

Edson Carvalho Rangel

PDS

3.690

Sidney Pascouto

Mario Lopes Machado

PT

2.799

Ramiro Alves Pessanha

Divaldo Batista da Cunha

PTB

1.746

Jordão Gonçalves Braga

Cecílio Peixoto Gomes

PTB

1.112

 

CANDIDATO ELEITO: JOSÉ CARLOS VIEIRA BARBOSA – PMDB

 

 

ANEXO IV

 

 

 

QUADRO COMPARATIVO ENTRE AS NOVAS E ANTIGAS ELITES QUE CONCORRERAM AS DIFERENTES ELEIÇÕES

 

 

PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPOS DOS GOYTACAZES

 

1988

 

Candidato a prefeito

Candidato a vice

Partido

Votos

Anthony Willian Garotinho Matheus

Adilson Sarmet

PDT

62.953

Rockfeller Felisberto de Lima

Danilo Assad Kanifs

PFL

51.408

Jorge Renato Pereira Pinto

Sadi Bogado

PMDB

22.008

Amaro Pessanha Gimenes

Vanildo da Silva Costa

PL

18.105

José Antonio Barbosa Lemos

Paulo de Souza Albernaz

PTB

16.311

Luiz Antonio

Wadick Morais

PT

1.214

Ionildo Manoel de Marins

Geovane Viana Cordeiro

PSC

998

Carlos Alberto Redondo

Alfredo Bernardo da Silva

PASART

829

 

 

CANDIDATO ELEITO: ANTHONY GAROTINHO -PDT

 

 

ANEXO V

 

POLÍTICA PARTIDÁRIA EM CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ

 

(1983/2004)

 

Período

Prefeito

Partido

Presidente da Câmara

Partido

Gov.do Estado

Partido

Presidente da República

Partido

1983/88

José Carlos Vieira Barbosa

PMDB

Altamir Bárbara (1983/84)

George D. Farah (1985/86)

Severino Veloso (1987/88)

PMDB

PMDB

PMDB

Leonel Brizola

/

Moreira Franco

PDT

/

PMDB

João Batista Figueiredo

/

José Sarney

MILITAR

/

PDS

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1989/92

Anthony Garotinho Matheus

PDT*

Carlos A. Campista (1989)

Paulo César F. Martins (1990)

Carlito Barbosa (1991/92)

PDT

PDT

PTB

Moreira Franco

/

Leonel Brizola

PMDB

/

PDT

José Sarney

/

Fernando Color

/

Itamar Franco

PDS

/

PRN

/

PMDB

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1993/96

Sérgio Mendes

PDT*

Paulo Fernado Feijó (1993/94)

Edson Coelho Santos (1995/96)

PDS

PDT

Leonel Brizola

/

Marcello Alencar

PDT

/

PSDB

Itamar Franco

/

Fernando Henrique Cardoso

PMDB

/

PSDB

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1997/00

Anthony Garotinho Matheus

/

Arnaldo França Vianna

PDT*

/

PDT

Paulo Souza Albernaz

Nelson Nahim M. Oliveira

PDT

PDT

Marcello Alencar

/

Anthony Garotinho Matheus

PSDB

/

PDT/PT/PCB /PSB e PC do B

Fernando Henrique Cardoso

PSDB

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

2001/04

 

 

Arnaldo França Vianna

 

PDT*

 

Ederval Azevedo Venâncio

 

PSB

 

**Anthony Garotinho Matheus

/

Benedita da Silva

/

Rosinha Garotinho

 

PDT

 

/

PT

/

PSB

Fernando Henrique Cardoso

/

Luis Inácio Lula da Silva

 

PSDB

 

/

PT

 

 

Obs. *   Dominação inconteste do PDT, no período 1989 a 2001.

        **  Em 2004, GAROTINHO encontra-se vinculado ao PMDB.

 

 

ANEXO VI

 

REPRESENTANTES DA  CÂMARA MUNICIPAL DE CAMPOS DOS GOYTACAZES -RJ  NO  PERÍODO DE 1982/1992  -  POR PARTIDO.

 

1982/83 –Prefeito – JOSE CARLOS VIEIRA BARBOSA –PMDB

1988/89 – Prefeito – ANTHONY MATHEUS – PDT

1992/93 -  Prefeito – SÉRGIO MENDES – PDT

 

ANO

PARTIDO

QUANTIDADE

1982

PDS

08

 

PMDB

11

 

PDT

01

 

PTB

01

 

 

 

1988

PDS

01

 

PTB

02

 

PMDB

04

 

PDT

04

 

PFL

03

 

PL

03

 

PDC

03

 

PSB

01

 

 

 

1992

PTB

03

 

PDT

06

 

PST

01

 

PSD

03

 

PRN

01

 

PL

02

 

PSDB

02

 

PDC

01

 

PT

01

 

PSC

O1

 

Observações:

VEREADORES DO PERÍODO 1989-1992:

 

A-   QUE FAZIAM OPOSIÇÃO AO GOVERNO GAROTINHO E QUE LEGISLAVAM DESDE A ÉPOCA DO GOVERNO DE  ZEZÉ BARBOSA:

 

-          George Dias Farah -  PMDB

-          Waldebrando Carvalho Silva (Vice de Zezé 82/88) – PDS

-          Ederval Azeredo Venâncio – PMDB

-          Aldemir Gonçalves  Azevedo- PMDB

 

B -  VEREADORES QUE FAZIAM OPOSIÇÃO AO GOVERNO DE GAROTINHO E  NÃO ERAM VEREADORES  NA  GESTÃO ZEZÉ    BARBOSA:

 

-          Paulo Fernando Feijó Torres – PMDB

-          Carlito Barbosa                    PTB

-          Sérgio Bainha                      PFL

-          Reinaldo Tavares Dantas      PSB

 

C – VEREADORES ELEITOS E QUE NÃO FAZIAM OPOSIÇÃO AO GOVERNO DE GAROTINHO:

-          Admardo  Azevedo Gama – PDC (Vereador na época de Zezé Barbosa)

-          Paulo César de Freitas MARTINS – PDT (vereador na época de Zezé Barbosa)

-          Romilton Viana Bárbara – PDC

-          Ailton da Silva Tavares   - PL

-          Carlos  Alberto Tavares Campista – PDT

-          José Madruga Crespo – PL

-          Roberto Ribeiro de Souza – PTB (vereador na época de Zezé Barbosa)

-          Adílio Velasco da Silva -    PDT

-          Gélcio Ferreira  Mendes -  PDT

-          Edson Coelho dos Santos-PMDB (vereador na época de Zezé Barbosa)

-          José de Almeida Rangel – PFL

-          Hélio Azevedo Gama – PFL

-          Nazil Baptista – “BIL” - PL

 

Notas

 

[1] O golpe político-militar de 31 de março de 1964, destituiu o ex-presidente da República, João Goulart, instaurando  no país o regime ditatorial que se  prolongou até meados dos anos 1980.

[2] Consultar anexo I.

[3] No 1º turno das eleições presidenciais de 2002, Anthony Garotinho obteve 15.179.879 votos (17,87% dos votos válidos, galgando o terceiro lugar da disputa eleitoral. No Estado do Rio de Janeiro foi o candidato que obteve o maior número de votos. – Fonte: TER.

[4] José Carlos Vieira Barbosa, mais conhecido como Zezé Barbosa, ascendeu na política municipal durante o  regime ditatorial militar, tendo ocupado a prefeitura de Campos em três mandatos: 1966/1970; 1972/1976 e 1983/1988.

[5] O conceito de neopopulismo, aqui apresentado, pode ser sucintamente definido como um apelo demagógico voltado para a imensa massa destituída de um mínimo existencial, em decorrência do advento neoliberal em que emergiu o país, ao início da década de 1990. Considera-se a nova versão da antiga prática que sempre caracterizou a cultura política brasileira ainda mais perversa. Isto porque, com a adoção do modelo de “Estado mínimo”, os representantes políticos nas esferas estadual e municipal, impossibilitados de acenarem com recursos das arenas distributivas do poder federal na formulação de suas promessas de campanha, apresentam obras de efeito imediato que, embora não produzam melhorias nas condições de vida da grande massa de baixa renda, trazem satisfações momentâneas e a ilusão de um real compromisso com essa parcela pouco instruída do eleitorado local. ( Ex: restaurantes, farmácias  e hotéis populares, piscinas artificiais nos subúrbios, conjuntos habitacionais com  nº exíguo de casas que, através  de sorteio, são financiadas a preços irrisórios para os poucos contemplados, etc). Tal conceito vem sendo trabalhado por Silvia Pantoja em suas análises sobre a atual conjuntura política-econômica-social brasileira.

[6] O anexo II torna evidente a incisiva mudança na clivagem do eleitorado campista, favorecendo a vitória, ainda que em 1º turno, dos candidatos apoiados pelo ex-governador.

[7] Um acurado exame sobre as contribuições dos principais representantes da Escola Italiana das Elites encontra-se em CASTRO, Silvia Regina Pantoja Serra de, em Amaralismo e Pessedismo Fluminense: o PSD de Amaral Peixoto. Tese de doutoramento, UFF, 1995. Consultar também, ALBERTONI, Ettore In: A Doutrina da Classe Política e Teoria das Elites. Rio de Janeiro, Imago, 1990.

[8] Cf. MICHELS, Robert. Os Partidos Políticos , S. P., Ed. Senzala, s/d.

[9] Consultar  MOSCOVICI, S. The fhenomenon of Social Representation. In Farr e S. MoscoviciSocial Representation Cambridge : CambridgeUniversity Press, 1984.

[10] Pelo Ato Institucional n.º 2 (AI 2), de outubro de 1965, o governo militar extingui o sistema pluripartidário de 1945, instaurando o bipartidarismo no país. Os políticos que apoiavam o regime ingressaram  na ARENA; os que faziam oposição integraram o MDB.

[11] Consultar anexo III.

[12] Apesar de obter 1.405 votos, Anthony Garotinho não se elegeu, uma vez que seu partido (PT) não conseguiu alcançar o coeficiente então necessário para fazer um só representante. Por aquela época era necessário que o

PT alcançasse de 6000 a 8000 votos e que Garotinho obtivesse entre 3000 a 4000 sufrágios.(Consultar Anexos)

[13] Consultar Folha da Manhã, Monitor Campista e A Notícia, novembro e dezembro de 1982.

[14] Leonel de Moura Brizola (PDT) elegeu-se governador do Rio de Janeiro , em 1982, com  434.058 votos, derrotando seu principal eleitor, Moreira Franco, candidato pelo PDS

[15] João Batista Figueiredo foi o último presidente militar, tendo ocupado o executivo nacional de 15/03/1979 a 15/03/1985.

[16] Embora o prestígio de Leonel Brizola tenha se expandido durante sua gestão, seu candidato, Darcy Ribeiro obteve 50.535 contra os 70.635 votos conquistados por Moreira Franco.

[17] Anthony Garotinho filiou-se ao PDT, por São João da Barra, por falta de vaga no diretório de Campos.

[18] Consultar anexos IV e V.

[19] Consultar anexo VI.

[20] Dados coletados no IBGE – seção Campos dos Goytacazes.

[21] A reforma eleitoral prevista na Constituição de 1988 previa eleições em dois turnos, caso o candidato mais votado no 1º não obtivesse maioria absoluta de votos. No 2º turno Marcello Alencar obteve 56,08% dos votos válidos, contra 43,92% conferidos a Anthony Mateus Garotinho.

[22] Cfr. Petróleo, Royalties e Região, pp228/229.

[23] Cfr. Época 22/01/2001.

[24] Garotinho rompe com o PDT em 15 de novembro de 2000, filiando-se, juntamente com sua esposa, Rosângela Matheus, no Partido Socialista Brasileiro (PSB), em 29 de janeiro de 2001. Em novembro deste ano, foi eleito vice- presidente regional deste partido. O estopim desse rompimento consistiu no fato de Anthony Garotinho não ter cumprido com a promessa feita, de garantir uma vaga à candidatura de Ilsan Vianna, mulher de Arnaldo, à Assembléia Legislativa, nas eleições de 2002,  mesmo com a demonstração de fidelidade por estes manifestada ao filiarem-se também ao PSB.

[25] O Diário 21/10/2004.

[26] CEPECAM (Centro de Pesquisa Candido Mendes - Campos dos Goytacazes); IBOPE; e PRECISÃO.

 

BIBLIOGRAFIA:

 

FONTES PRIMÁRIAS:

 

ANAIS DACÂMARA MUNICIPAL DE CAMPOS DOS GOYTACAZES

DADOS CENSITÁRIOS COLETADOS NO IBGE (CAMPOS DOS GOYTACAZES)

DADOS COLETADOS NO TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO RIO DE JANEIRO

IMPRENSA CAMPISTA: A Notícia; Folha da Manhã; Monitor Campista.

GRANDE IMPRENSA: Época. Novembro de 2001.

 

FONTES SECUNDÁRIAS:

 

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* Silvia Regina Pantoja Serra de Castro  é doutora em História Política e Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e professora adjunta do curso de Direito da Universidade Candido Mendes, campus: Campos dos Goytacazes e Ipanema (RJ). Coordenadora do Núcleo Lyra F.º (Centro de pesquisa – UCAM/Campos dos Goytacazes).

 

** Diomar Pessanha de Sales é bacharelanda do curso de Direito da Universidade Candido Mendes - Campos dos Goytacazes e bolsista de iniciação científica (UCAM/FAPERJ).

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